26/12/08

Era uma vez…

Um menino chamado Pedro. [1]
O Pedro tinha sete anos, era filho único e vivia com os pais numa aldeia perto da grande cidade.
O sonho do Pedro era ter um irmão; estava cansado de brincar sozinho, de querer jogar às escondidas e não ter ninguém para procurar, de querer jogar à apanhada e não ter ninguém para agarrar.
Um dia, o Pedro encheu-se de coragem, foi falar com a mãe e fez-lhe o seu pedido. Mas a mãe, assim que o ouviu, respondeu de imediato que era impossível porque o dinheiro mal chegava para pagar as prestações da casa e do carro, para a comida e para comprar de vez em quando alguma roupa. Por isso, um irmão nem pensar.
O Pedro ficou muito triste com a resposta da mãe mas não desanimou.
Perto da casa onde vivia, existia um baldio pantanoso, onde o Pedro ia muitas vezes para ouvir as rãs, ver as flores, as plantas que lá cresciam, tão diferentes das que via nos vasos que a mãe tinha em casa ou nos jardins dos vizinhos, os peixinhos pequeninos e também pequenos insectos que por ali andavam sempre à volta.
No pântano havia muito barro e, depois da conversa com a mãe, Pedro teve uma ideia: iria fazer um irmão de barro.
Assim, começou a ir todos os dias ao pântano buscar barro, que ia juntando num cantinho da garagem.
Quando lhe pareceu que já tinha barro suficiente, começou a sua obra. Durante vários dias foi trabalhando o barro e, depois de várias tentativas, o seu irmão estava pronto e tão bem feito, que só lhe faltava ter vida para poderem brincar os dois. Chamou-lhe João e levou-o para o quarto. Nessa noite, dormiu com o irmão de barro, na sua cama quentinha.
O Pedro estava muito contente com o irmão que tinha criado. Tão contente que não quis guardar essa alegria só para ele e, no dia seguinte, levou-o para a escola.
Quando chegou, explicou à professora que era o seu novo irmão e ela deixou-o entrar e sentá-lo na cadeira ao lado da sua e, durante aquela aula, os outros meninos da sala não pararam de olhar para o novo parceiro do Pedro.
Chegou a hora do recreio e o Pedro pegou no seu irmão ao colo e levou-o para o pátio, onde os outros meninos já jogavam à apanhada e à cabra-cega.
O Pedro não quis jogar nenhum jogo e afastou-se para um canto do pátio com o irmão e aí ficou a dar-lhe miminhos e a falar com ele. Estava tão feliz!
Mas de repente, sem que nada o fizesse prever, o sol desapareceu, nuvens muito escuras pintaram o céu de negro e logo de seguida uma chuva intensa abateu-se sobre o pátio.
O Pedro, que estava no canto mais afastado da porta de entrada na escola, nem queria acreditar no que estava a acontecer. Começou a correr para se proteger, mas a chuva era tão forte que mal conseguia andar. E então reparou que aquela chuva estava a cair também sobre o irmão, começando a desfigurá-lo, depois deformá-lo, até o derreter.
Quando se conseguiu abrigar, o seu irmão não era mais do que uma bola deformada de barro.
E o Pedro chorou, até os olhos ficarem secos por já não terem mais lágrimas para chorar. Depois, decidiu que quando fosse grande faria um irmão de pedra.
Terminada a escola, o Pedro voltou para casa, desolado. Ao chegar, a mãe estava a regar as flores e cantarolava, assobiava, por vezes quase parecia que estava a dançar e, ao vê-lo, correu para ele, beijou-o e abraçou-o com um abraço bem apertado.
O Pedro não estava à espera daquele contentamento, que contrastava com a sua tristeza, e perguntou à mãe o que tinha acontecido.
Então a mãe pegou nele pela mão e levou-o até à sala. Sentaram-se no sofá e começou a falar:
- Sabes, Pedro. Eu e o teu pai estivemos a conversar e decidimos que conseguimos dar-te o que nos tens pedido. Vais ter um irmão, que irá nascer pelo Natal!
O Pedro olhou para a mãe, com os seus olhos pretos bem abertos e brilhantes de alegria, abraçou-a, deu-lhe um demorado beijo na face e disse:
- Obrigado mamã. Não poderias dar-me melhor prenda. Este será o Natal mais feliz da minha vida!
(Conto de autor desconhecido. Inédito encontrado algures)

Na Liga Sagres, e em semana natalícia, nada melhor para manter o espírito desta quadra do que distribuir uns pontinhos! A Madeira e Coimbra agradeceram.

À trave:

Antes da queda, Adão transava mas não gozava.

(Budha Bar, s.d.)

[1] Não. Não era o Pedro Henriques. Este é o personagem de um possível conto de Natal, que não tem nada a ver com aquele que foi o actor principal de mais um roubo na Catedral!

Alinhar à direita@Kar Luz Estrela

25/12/08

Natal

Festas Felizes para todos os nossos amigos, leitores e colaboradores.
Uma saudação especial ao Frazão, Lima e Mendes pela continuação da organização do jantar dos Benfiquistas, ao D Ferreira pela concepção gráfica que vem mantendo nas nossas diversas actividades.
Uma enorme saudação ao nosso colaborador permanente Kar Luz Estrela que, através da sua caneta afiada, nos vem alimentando o ego Benfiquista.

19/12/08

Não há dobradinha!

Os Rey(es) também falham!

Por uma vez, tive a curiosidade de ler os comentários ao que, de há uns tempos a esta parte, tenho feito chegar a este blog, de e para benfiquistas, e foi uma autêntica desilusão! O acto de comentar, que de um acto nobre sempre se tratou, está hoje, graças aos avanços das novas tecnologias, vulgarizado e acessível a todos, o que origina que, na maior parte das vezes, o que se lê são apenas ataques depreciativos e marginais ao conteúdo do que se pretendeu comentar, escritos como se fossem mensagens de telemóvel, utilizando abreviaturas e letras a servir de palavras, e que espero que Fernando Pessoa nunca leia pois renegaria de imediato a sua Pátria, a língua portuguesa!
De uma forma geral, e ao institucionalizar-se o acesso do comum dos mortais aos mais variados meios de comunicação, permitiu-se que tudo possa ser dito e escrito sem controlo demasiado apertado, dando origem a que apareçam autênticas pérolas de escrita e conversação, como as que a seguir se tentam transcrever e que são apenas uma ínfima parte do enorme manancial que todos os dias fica disponível na Internet, na rádio ou na televisão:

“á é p deixar o comentário? atão cá vai disto: não gosto do quique. o governo é 1 kambada de xulos! kem não salta é lampião. toma lá mais 5! a lagartagem tá desperada! o p.c. é k vus mostra como é k é! Bibó Porto!

- Dê-nos a sua opinião no fórum TSF!
- Tou sim? Tou a falar do Montijo e tenho pra dizer que gosto muito do pograma. Que é bom darem a voz ao povo porque o povo tamém tem de se fazer ouvir.
- E quanto ao assunto em discussão o que é que tem a dizer?
- Bem, tá a ver, prontos, então é assim: eu até acho que o Paulo Bento é um bom treinador, mas o Miguel Veloso tá a ficar um bocado saídote e tem de levar um puxão de orelhas. Tá a ver. É isto que eu penso. Quanto ós outros. Eu não os considero grandes porque eu sou do sportim e é o único que é grande. Os outros nem aos calcantes lhe chegam. E prontos. É esta a minha opinião. M’to obrigada por me darem voz!

- Opinião Pública, na SIC, a sua opinião conta. E já temos um espectador em linha.
- Bom dia. Tou a falar da Amadora. Só uma pergunta: tão-ma ver na tevisão?
- Não.
- Ó pena. É que eu queria mesmo é que me vissem na tevisão. Mas portantos e quanto ao caso BPN, acho que o governo devia nacionalizar os bancos todos e ficava um banco só, para ajudar o Zé socras a endireitar isto porque o país tá mal, é só miséria e desemprego e roubos e bandidagem à solta. Sabe que eu tou aqui numa rua com muitos bandidos, já me tentaram entrar em casa duas vezes e a polícia não fez nada. Os bancos têm sido todos uns chulos a encherem-se à nossa custa. Portantos é isto que eu penso e mais uma vez muito obrigada por poder falar na tevisão, na sic que é a que vejo sempre. As outras não valem nada.”


Penso que a mostra é suficientemente elucidativa sobre a qualidade dos comentários que, na generalidade, nos são dados a ouvir e ler, e proporciona matéria mais que suficiente ao cronista para que, invocando novamente Fernando Pessoa e parafraseando um dos seus mais famosos poemas, escreva:

“E o que comenta o que leu
No comentário realça bem
Não aquilo que se escreveu
Mas só o que lhe convém.


Posto isto, ou se fosse um papelinho amarelo com uma faixa autocolante na retaguarda seria post it, o cronista entende que os comentários, sejam eles à forma, ao conteúdo, ou à cor clubista, são sempre bem-vindos, quanto mais não seja para poderem ser utilizados em próximas crónicas.
Quanto ao Glorioso, que 10 milhões de portugueses gostam de comentar, 4 milhões a dizer mal e sempre à espera que não vença, e 6 milhões porque é o seu clube do coração, conseguiu o que nem SCP nem FCP tinham conseguido, isto é, não perder com o Leixões, jogando 120 minutos em pleno Estádio do Mar. Perdeu nos penaltis, mas nas lotarias nem todos ganham! Na Taça UEFA, a despedida foi justa, por aquilo que não fez em jogos anteriores, (in)justiça confirmada no último jogo em que, por manifesta falta de sorte, não conseguiu evitar um traumatismo ... ucraniano.

Comentário:

A minha mãe nunca me deu de mamar. Ela dizia que só gostava de mim como amigo.

(Praia da Nazaré, à procura de carapaus secos)
@Kar Luz Estrela

13/12/08

Lá vai uma, lá vão duas... É Natal

Na partida que marcou o regresso de Moretto à nossa baliza, o guarda-redes, mas também o resto da equipa, tiveram em Matosinhos um verdadeiro trabalho de Hércules frente ao Leixões durante 120 minutos.
O jogo acabou empatado a zero e só no último penalti da série Reyes falhou.
Wesley foi o primeiro a marcar, sem hipóteses para Moretto, mas Cardozo fez a mesma 'brincadeira' frente a Beto.
Zé Manuel também não falhou, tal como Katsouranis para o Benfica.
Hugo Morais marcou o terceiro e Nuno Gomes seguiu-lhe o exemplo.
Laranjeiro marcou o quarto para o Leixões, seguido de David Luis, que também converteu.
Chumbinho quase permitia a defesa a Moretto, mas conseguiu marcar o quinto penalti. O mesmo não aconteceu com Reyes, que falhou a oportunidade de seguir para os quartos de final, ao permitir a defesa de Beto.
O jogo foi um verdadeiro confronto de gigantes.
No final dos 90 minutos, tanto o Benfica como o Leixões tiveram grandes oportunidades para matar o jogo, principalmente através de Reyes, do lado dos encarnados, e de Hugo Morais, pelos homens de Matosinhos.
E como o empate não era resultado possível, as equipas tiveram mesmo de voltar ir para prolongamento, para lutar pelo lugar na fase seguinte da Taça de Portugal.
No prolongamento o jogo acalmou bastante, com as equipas a temerem um contra-ataque que pudesse deitar tudo a perder e com os músculos a começarem a ceder.
Nos penaltis o Leixões acabou por sair vencedor.

12/12/08

Kar Luz Estrela! E agora?

E agora?

Agora, cajuda do Guimarães, o Glorioso está no primeiro lugar da Liga Sagres!
Finalmente! Apetece dizer.
Depois da semi-frustração no jogo contra os homens do Sado, os comandados de Quique Flores deram uma resposta que os detractores da qualidade do grupo de trabalho julgavam impossível.
Independentemente da expulsão do guarda-redes do Marítimo, mais que justa, diga-se em abono da verdade desportiva, o Glorioso mostrou uma atitude em campo que deu a resposta eficaz e necessária para o momento menos positivo, em termos de resultados, que a equipa estava a atravessar.
Com um David à solta, qual fera endiabrada e que partiu completamente os rins à defesa menos batida da Liga, um senhor Rey(es) a marcar e dar a marcar golos e um grego, que não nos está atravessado, a comandar as operações a meio campo, o SLB foi imparável, construindo uma goleada histórica, daquelas que já não se viam há anos!
Agora é tempo de saborear e solidificar esta conquista e manter o nível exibicional atingido na Madeira, a começar já amanhã contra o vice líder da Liga Sagres em mais uma eliminatória da Taça de Portugal e continuando no próximo jogo da Taça UEFA em que, apesar de praticamente arredado da fase seguinte, o Glorioso tem a obrigação de, se tiver de se despedir desta competição, fazê-lo com uma exibição de gala, uma exibição “à Benfica”, que apague a imagem que, neste particular e nesta época, foi menos consentânea com os pergaminhos do SLB no seu brilhante historial das competições europeias.

Apito final:
“A humanidade produz Bíblias e armas; (…) transforma conventos em quartéis, mas nomeia capelães para esses quartéis.”
R. Musil, O Homem sem Qualidades

(Porto [Majestic], um dia de Dezembro, à hora de ponta)

05/12/08

O Pedido de Kar Luz Estrela

A Posteriori
Ainda não refeito das emoções atenienses, o Glorioso para consumo interno foi travado na sua caminhada conquistadora, rumo à vitória final, quando decorriam 80 minutos do jogo contra os homens do Sado. Uma decisão da equipa de arbitragem, que ninguém entendeu, escamoteou o SLB de três preciosos pontos que o colocariam na liderança isolada da Liga SAGRES. No entanto, e contrariando a opinião geral, penso que a decisão do árbitro foi correcta, pois se o nosso treinador já por várias vezes referiu que a equipa não tem pressa de chegar ao primeiro lugar, então nada melhor do que fazer-lhe a vontade!
A semana que passou revelou também que ainda falta afinar muita coisa para que a máquina funcione em pleno, como ficou demonstrado à saciedade na tragédia grega que, praticamente, retirou o Glorioso da Taça UEFA e que muito me desiludiu, pois, como qualquer adepto que se preze, o meu objectivo é ver o Glorioso vencer sempre, seja em que prova for. No entanto, sou realista e, tendo a equipa muita gente nova, com novos métodos de trabalho e nova equipa técnica, e enquanto não somos comprados por um magnata das arábias ou do gás moscovita, temos de nos reduzir à nossa dimensão e optar pelo mais importante, ou seja, a conquista da Liga SAGRES. Este terá de ser o objectivo primordial. O resto poderá e deverá ser secundarizado.
Para que tal aconteça, aqui e agora manifesto a minha solidariedade e apoio a todos os que hoje vão gerindo e servindo o Glorioso, contrariamente àqueles que, há uns anos atrás, se serviam do Glorioso, reiterando a convicção que o principal objectivo que os deve nortear esta época e que nunca deverão hipotecar com objectivos secundários é a conquista da Liga, quanto mais não seja porque é a Liga SAGRES, a cerveja da minha preferência, uma cerveja de Lisboa que, assim, derrotará a sua rival do Norte, a S B!
Até por isso e também por isso o Glorioso TEM DE SER CAMPEÃO NACIONAL!

Às malhas laterais
“Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo”
(Torrance [Jack Nicholson], The Shinning)

(Cais do Sodré [com muita brilhantina], s.d.)
@Kar Luz Estrela