BAR DO ABISMO
O mar estava calmo. Enquanto a ondulação não ultrapassava a altura das pequenas rochas mais baixas, espraiando-se languidamente no imenso areal, o horizonte longínquo lançava apelos constantes e cada vez mais fortes… Entrar, embrenhar-se, dirigir-se rumo à linha de água que se vislumbrava ao longe, era o seu mais profundo desejo. Mas as obrigações de uma vida rotineira retinham-no e impediam-no de dar o passo rumo à liberdade.
Um barco navegava calmamente seguindo aquela linha imaginária que o seu olhar alcançava. Imaginou-se a navegar também, qual marinheiro quinhentista à descoberta de novos mundos, alargando horizontes, conhecendo o desconhecido, vendo o que ainda poucos tinham visto, civilizando o que era incivilizado, propagando uma cultura que iria arrasar e destruir culturas que não entendia.
Imaginou-se a tomar para si mulheres de outras cores, raças e credos, a estabelecer relações comerciais com vendedores de produtos desconhecidos, de diferentes aromas e sabores, a maravilhar-se com monumentos de estilos arquitectónicos não padronizados, a saciar a sua fome com alimentos que nunca degustara.
Imaginou-se lá, longe, há cinco séculos atrás, porque não conseguia ver-se hoje na vida sem sentido que ia desperdiçando.
De repente teve vontade de mergulhar e nadar, nadar, nadar até chegar ao barco que começava a perder-se no horizonte.
Mas, mais uma vez, faltou-lhe a coragem. E, virando costas ao mar, regressou à sua solidão maldizendo a sua cobardia.
E se na Liga Sagres o Glorioso deu mais uma lição de pragmatismo, vencendo e convencendo, na Taça UEFA há uma mão cheia de razões para não comentar.
Livro (in)directo
“Que importa a eternidade da danação a quem encontrou num segundo o infinito do prazer?” (Baudelaire)
Um barco navegava calmamente seguindo aquela linha imaginária que o seu olhar alcançava. Imaginou-se a navegar também, qual marinheiro quinhentista à descoberta de novos mundos, alargando horizontes, conhecendo o desconhecido, vendo o que ainda poucos tinham visto, civilizando o que era incivilizado, propagando uma cultura que iria arrasar e destruir culturas que não entendia.
Imaginou-se a tomar para si mulheres de outras cores, raças e credos, a estabelecer relações comerciais com vendedores de produtos desconhecidos, de diferentes aromas e sabores, a maravilhar-se com monumentos de estilos arquitectónicos não padronizados, a saciar a sua fome com alimentos que nunca degustara.
Imaginou-se lá, longe, há cinco séculos atrás, porque não conseguia ver-se hoje na vida sem sentido que ia desperdiçando.
De repente teve vontade de mergulhar e nadar, nadar, nadar até chegar ao barco que começava a perder-se no horizonte.
Mas, mais uma vez, faltou-lhe a coragem. E, virando costas ao mar, regressou à sua solidão maldizendo a sua cobardia.
E se na Liga Sagres o Glorioso deu mais uma lição de pragmatismo, vencendo e convencendo, na Taça UEFA há uma mão cheia de razões para não comentar.
Livro (in)directo
“Que importa a eternidade da danação a quem encontrou num segundo o infinito do prazer?” (Baudelaire)
(Atenas, 27 de Novembro de 2008)
@Kar Luz Estrela