A MEDALHA
Foi um dia alucinante!
Saímos de Lisboa pelas 8 da manhã, a bagageira atestada de fresquinhas carlsbergs e duns pastéis de bacalhau, croquetes, rissóis e pataniscas acabadinhas de fritar, cujo aroma a óleo quente se espalhou pelo carro durante a viagem, entranhando-se de tal modo na roupa que quando chegámos ao fim da viagem parecíamos acabados de sair duma fritadeira. Claro que não foi esquecido um arrozinho, não malandro porque a viagem foi longa e ficou empapado pelo caminho, e ainda quatro pães saloios meio enfarinhados e acabados de cozer em forno a lenha.
A viagem decorreu sem incidentes de maior, embora a paragem em Canal Caveira para o cafezinho da manhã se tenha revelado desastrosa devido a duas carlsberg que se partiram no porta bagagens, impregnando o que de comestível aí havia com um sabor extra a cerveja que não tinha sido planeado mas que, no fim, até acabou por ser agradável.
Atendendo a que chegámos ao fim da viagem bastante cedo, havia ainda muito espaço para estacionar. Depois de procurar um lugar o mais à sombra possível, o que não se revelou tarefa fácil, parámos a viatura e, de imediato, despejámos o porta-bagagens de tudo o que era comestível e bebível. Tarefa finalizada, foi começar a dar ao dente que a fome e a sede não se fizeram rogadas nem se deram ao trabalho de ficar pelo caminho.
Enquanto saciávamos o apetite, ia chegando mais e mais pessoal que, de imediato, seguia o nosso exemplo e entabulava conversa com os vizinhos, de modo a que, em breve, parecia estarmos numa feira franca em que um rissol era trocado por uma coxa de frango, ou uma asa de galinha era trocada por uma bem apetitosa chamuça, mas sempre tudo bem regado com carlsberg.
E assim foi decorrendo a tarde, sem motivos para arrelias ou disputas, pois parecia que estávamos todos unidos num único objectivo: comer muito e bom e beber carlsberg.
Por volta das 19H45, a maior parte do pessoal já não se encontrava por ali; tinha entrado num edifício situado no meio daquele descampado, qual nave espacial que por ali tivesse pousado há uns anos e, por falta de energia, não mais dali saíra.
De vez em quando ouvíamos os gritos dessa multidão da nave, mas não nos intimidavam porque a comida continuava óptima e a carlsberg sempre fresquinha e apetitosa.
Já era noite e pensávamos em regressar. Da nave espacial, depois de mais alguns gritos ocasionais, começavam a surgir gritos constantes e ritmados, que se mantiveram por quase meia hora. Tínhamos mesmo de ir embora porque o barulho já se tornava ensurdecedor e a carlsberg tinha-se acabado.
Entrámos no carro. Faltava apenas o Lucílio que tinha ido satisfazer uma necessidade fisiológica. De repente, vemo-lo entrar a correr, com uma medalha na mão, a dizer-nos para sairmos dali o mais rapidamente possível, enquanto víamos uma multidão a sair da nave espacial, vestida em tons de verde e a ouvíamos gritar: “Gatuno!”
Penalty:
“Devemos ser apugilistas da verdade desportiva!”
(A sair do Algarve, 22 de Março de 2009, 22H45)
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